Este artigo debate sobre os
exercícios comumente realizados em academias e centros de fitness que podem acarretar/contribuir
ou exacerbar lesões na articulação glenoumeral.
Vale ressaltar que os profissionais
da área de ciências do esporte e da educação física devem estar hábeis em
desenvolver programas de treinamento apropriados e seguros para cada cliente,
assim sendo, este texto tem como objetivo fornecer informações relevantes em
relação a alternativas que podem e devem ser utilizadas em casos de lesões na
articulação glenoumeral, de modo a amenizar esta lesão assim como preveni-la.
Alongamentos repetitivos dos
ligamentos articulares aumentam a probabilidade de permanente frouxidão e a
consequente lesão articular.
O Artigo de base para a formulação
do texto se propõe a apresentar exercícios que podem ser utilizados como
substitutos ou variações, assim como evidenciar exercícios de risco para a articulação glenoumeral.
Se um ligamento ou uma capsula
articular perder significantemente sua capacidade de exercer tensão sobre uma
articulação, poderá haver a necessidade de uma cirurgia para restabelecer a
estabilidade articular.
Lesões na articulação dos ombros são
relativamente comuns entre levantadores de peso, e atletas de nível competitivo
geralmente possuem algum programa de prevenção ou tratamento.
Quando os ligamentos da articulação
glenoumeral estão excessivamente frouxos ou instáveis, os músculos do manquito
rotador são geralmente requisitados mais do que normalmente para exercer grande
força para manter estável a cabeça do úmero na cavidade.
Felizmente a maioria das lesões
ocorridas nos ombros é observável (possível identificação de seus sintomas) e uma série de medidas pode ser tomada
evitando assim que ocorra estiramentos do tendão muscular ou torsões que afetam
os ligamentos da capsula articular.
Contudo, quando exercícios são
realizados com uma técnica incorreta o treinamento resistido pode exacerbar ou
contribuir para o desenvolvimento de hiper-elasticidade articular ou instabilidade.
Quando este quadro de
hiper-elasticidade ou instabilidade articular esta presente uma compensação dinâmica
dos músculos do manguito rotador é instaurada resultando em fadiga seguida por
tendinite e dor.
Assim sendo, exercícios que impactam
significativamente e geram estresse na articulação glenoumeral sendo capazes de
alterar sua capacidade de tencionar a cabeça do úmero rente a cavidade, devem
ser evitados, particularmente se houver uma instabilidade preexistente ou
hiper-frouxidão ligamentar.
A articulação Glenoumeral
A hiper-mobilidade, ou instabilidade
articular pode ocorrer devido a uma hiper-mobilidade congênita, ou devido a
alguma lesão traumática ou ainda, por gradual perda da tensão da capsula
articular.
Rotações externas combinada com
abdução e abdução horizontal maximizam o estresse anterior da capsula
articular. E esta combinação de movimentos deve ser evitada durante um programa
de exercício resistido em indivíduos com hiper-elasticidade ou instabilidade
anterior.
Assim sendo, modificações devem ser
realizadas e ajustes na realização do movimento para assegurar que o ombro
evite uma posição de risco durante o levantamento.
Exemplos de exercícios comumente
realizados que colocam a articulação glenoumeral em risco: (1) Puxador posterior
para o latíssimo do dorso e redondo maior; (2) desenvolvimento posterior; (3) exercício
de supino e (4) Peck deck.
Outro exercício comumente realizado
com o peso posicionado atrás da cabeça é o agachamento livre. Durante o
agachamento livre o ombro é mantido em rotação externa, posição de abdução e
horizontalmente abduzido. Clientes com hiper-frouxidão ligamentar anterior devem
ser instruídos a modificar o centro de massa da barra, posicionando a barra na
frente do ombro durante o agachamento.
Exercícios comumente realizados com
a barra posicionado por trás do pescoço (como puxador, ou desenvolvimento
posterior) devem ser realizados com um angulo de 30º para frente em relação ao
posicionamento da escapula e do ombro.
O exercício de supino deve ser
modificado para evitar excessiva abdução horizontal do ombro. Casos de
deslocamento bilateral da articulação do ombro já foram relatados como
resultado de estresse devido ao movimento de abdução horizontal combinado com
resistência/carga elevada.
O puxador anterior aproximando a
barra ao peito pode ser realizado substituindo o puxador posterior quando se
tem a intenção de treinar os músculos do latíssimo do dorso, romboide e
flexores do cotovelo, sem comprometer assim a região anterior da articulação
glenoumeral.
Exercícios de desenvolvimento são
tipicamente realizados com a barra posicionada atrás da cabeça, colocando o
ombro em uma posição de risco. Realizá-los com as mãos e os ombros posicionados
para frente é recomendado, seja usando uma barra, dumbbells, ou máquinas.
Como alternativa para evitar um
excesso de abdução horizontal do ombro durante o exercício supino, uma almofada
pode ser posicionada no peito limitando a fase excêntrica do movimento, assim
como a utilização de uma máquina que realize essa limitação. Essa medida
protegerá a capsula articular em sua região anterior, não afetando-a.
Sobre a instabilidade anterior da
articulação glenoumeral:
Este é o local mais comum de hiper-elasticidade
ou instabilidade na articulação do ombro. O espaçamento entre mãos
deve ser limitado durante o supino, flexões similares realizadas no chão também
devem ser limitadas, para amenizar a abdução horizontal.
Em adição, assim como é reduzido o
estresse na região anterior dos ligamentos da articulação glenoumeral pela
utilização da posição das mãos de forma estreita, os clientes tendem a reportar
que este posicionamento das mãos causa menor desconforto na articulação do
punho comparado à técnica padrão realizada no chão.
Técnica sugerida para evitar excesso de abdução
horizontal do ombro.
Relatos apontam que esta técnica causa menor
desconforto na articulação do punho.
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Técnica geralmente utilizada |
Isto
pode ser alcançando, solicitando e instruindo os clientes para iniciarem o
movimento com os cotovelos levemente posicionados a frente do ombro (plano
escapular) e para manterem os cotovelos abaixo do nível do ombro (posição abaixo
do 90°) durante a execução do movimento.
Os cotovelos devem ser posicionados
abaixo do nível do ombro para reduzir o cisalhamento em torno do espaço
subacromial, que pode ocasionalmente irritar os tendões do manquito rotador e a
bursa.
O alongamento da musculatura
peitoral por meio de exercícios com os braços horizontalmente estendidos e com
rotação externa dos ombros devem ser evitados em indivíduos com hiper-frouxidão
ou instabilidade na região anterior da capsula articular.
Embora o objetivo seja alongar a
musculatura do peitoral, a região anterior e não contrátil da capsula articular
também é alongada com o braço posicionado em abdução horizontal e rotação
externa, podendo agravar assim a instabilidade.
Uma alternativa técnica para o
alongamento do peitoral é ilustrado na figura 01. Nesta posição o alongamento
afeta primariamente o peitoral menor; contudo, o peitoral maior também será
suavemente alongado se o alongamento for realizado corretamente.
Instabilidade da região posterior
da articulação glenoumeral
Assim como o alongamento excessivo
da região anterior da articulação pode exacerbar a instabilidade, o mesmo
ocorre com a região posterior.
Deadlifts (agachamentos terra) e
Powercleans (fig. 02) devem ser evitados ou modificados se uma instabilidade
posterior for presente. Ambos os exercícios estressam e afetam a capacidade de
tensão da articulação na região posterior no momento em que se levanta ou desce
a barra em relação ao chão (força que tende a puxar o ombro para frente - fig. 03).
Fig.03. Força de tração em direção ao chão exercida na articulação glenoumeral durante o levantamento terra ou Powerclean |
Fig.02 - Execução do exercício Power Clean |
A Capsula articular na região posterior é estressada quando os ombros são puxados para a frente (fase excêntrica da remada por exemplo).
O levantamento terra deve ser
evitado completamente, já o exercício power clean pode ser substituído pelo
hang clean (Fig.04), pois o mesmo elimina a força de tração para a frente do ombro ao
retirar a barra do chão.
Fig.04. Exercício Hang clean |
Em contraste com a pegada das mãos
próximas uma da outra durante a execução do supino em indivíduos com
instabilidade anterior, no caso de instabilidade posterior deve-se usar um
maior distanciamento das mãos para assim dispersar força direta através dos
braços em direção à foça glenoidea.
Colisão Subacromial
Síndrome primária de colisão
Fig.5 - Ligamento coraco-acromial e o Acrômio
|
Quando os tendões do manguito
rotador ou a bursa estão inflamados, o espaço subacromial é diminuído ainda
mais e os tendões e a bursa são frequentemente comprimidos no espaço
subacromial - condição conhecida primariamente como choque, colisão ou
compressão subacromial.
Indivíduos acometidos desta síndrome
geralmente experimentam dor quando levantam o braço afetado (particularmente
acima do nível do ombro) por causa da compressão do tendão e da bursa que estão
inflamados e sensibilizados.
Diversos exercícios do treinamento
resistido devem ser modificados para prevenir este quadro. A elevação lateral,
um excelente exercício para o fortalecimento do feixe medial do deltoide e o
musculo supra espinhal, é comumente realizado com a palma da mão para baixo
(rotação interna da articulação glenoumeral), que pode acarretar na
colisão/compressão do manguito rotador.
Durante a elevação do braço
lateralmente, os tendões do manguito rotador movem normalmente com mínima
compressão em relação ao acrômio. Se o braço esta com rotação interna durante a
elevação lateral, contudo, a grande tuberosidade do úmero comprime os tendões
do manguito rotador e a bursa contra o acrômio.
Para minimizar esta compressão,
exercícios de elevação lateral devem ser realizados com a rotação externa do
braço, ou seja, com a palma da mão voltada para cima.
Caso não seja adotado esta modificação na posição da mão durante a realização deste exercício, a repetitiva compressão pode
levar a uma inflamação e consequentemente danificar os tendões do manguito
rotador e a bursa.
Outro
exercício que pode ocasionar em compressão/colisão subacromial é a remada alta.
Durante este exercício o ombro é mantido em uma posição de rotação interna em
sua fase final concêntrica. Assim sendo, recomenda-se evitar realizar este
exercício em sua amplitude máxima, limitando-se a uma elevação dos cotovelos
abaixo da linha do ombro, para assim, evitar a compressão dos ligamentos do
manguito (Fig.06).
Este
quadro pode também ser exacerbado durante exercícios que envolvem excessiva
flexão do ombro. Assim sendo, o exercício pull over executado com peso livre
vale ser elucidado neste caso, pois tal movimento força os tendões do manguito
rotador e a bursa contra a superfície baixa do acrômio quando os braços estão
em hiper-flexão.
Exercícios que contribuem para a
hiper-elasticidade anterior da articulação glenoumeral (discutidos previamente)
podem também contribuir para o desenvolvimento de uma colisão/choque/compressão
secundária do manguito rotador.
Se os braços não permanecerem
centralizados em sua fossa rasa durante os movimentos, os tendões do manguito
rotador e a bursa podem ser repetitivamente comprimidos e tornarem-se
inflamados.
Em adição, os músculos do manguito
rotador devem trabalhar de forma acentuada quando há instabilidade articular. A intenção neste caso é restaurar a
estabilidade, mas devido a esta sobrecarga, os músculos do manguito tornam-se inclinados
a fadiga, tendinite (micro trauma), inflamação e consequentemente levando a
esta síndrome.
Exercícios recomendados para a
região do ombro.
Pessoas que treinam levantamento de
pesos frequentemente desenvolvem grandes grupos musculares na região do ombro,
mas ainda quase sempre pecam no sentido de desenvolver os músculos menores do
manguito rotador e os estabilizadores da escápula.
Este padrão de fraqueza e
assincronia neste grupo de músculos pequenos situados na região do ombro
acomete inúmeros levantadores de peso e os mesmos geralmente tornam-se
incapazes de realizar determinados movimentos e darem continuidade ao
treinamento devido a dores na articulação do ombro.
Sendo assim, recomenda-se exercícios
que desenvolvam todos os grupos musculares presentes na região do ombro, não
somente os músculos maiores, como ocorre geralmente.
Movimentos
de Rotação interna e externa em posição neutra ou com abdução de 90º dos ombros
são comumente prescritos para pacientes com disfunções na articulação do ombro.
Atletas que realizam exercícios de
suspensão precisam desenvolver força nos músculos do manguito que realizam a
rotação interna do ombro para assim, direcionar a cabeça do úmero para baixo
enquanto o braço esta elevado. Inadequada força pode levar a uma excessiva
elevação da cabeça do úmero e subsequentemente à compressão dos tecidos moles por
baixo do acrômio.
A realização de uma técnica correta
do exercício é vital para a segurança de
qualquer programa de treinamento resistido. É também imperativo que o programa
de treinamento seja composto de exercícios que se apropriem aos objetivos
individuais do cliente e de sua anatomia.
A necessidade de profissionais da
área da ciência do esporte e de educadores físicos nesta área ou vertente do
processo de prevenção e reabilitação esta sendo atualmente muito demandada. Assim
torna-se importante a certificação e licenciamento do profissional para estar
apto a atender clientes acometidos de sintomas ou lesões articulares.
Quando em dúvida em relação à
segurança de um exercício particular para a reabilitação de um individuo após
uma lesão, o profissional deve recomendar uma consulta com o profissional de
saúde apropriado.
Referência bibliográfica:
DURALL, Chris J.; MANSKE, Robert C.; DAVIES, George J. Avoiding shoulder injury from resistance training. Strength & Conditioning Journal, 2001, 23.5: 10.